ALBAICÍN, BAIRRO MOURO EM GRANADA
Granada foi a última cidade árabe a cair na Reconquista. Albaicín
ou Albayzín é um dos seus bairros mouros, de origem medieval, que teve seu
esplendor durante o período Nasrida. Está localizado na colina oposta à
Alhambra e pode ser acessado a partir da Carrera del Darro, estreita via que, a
partir da Plaza Nueva, margeia o rio de mesmo nome.
Albaicín, que é patrimônio mundial da Unesco, mantém o padrão
urbano original, com suas ruas estreitas que se vence morro acima em um
labirinto de agradáveis surpresas. As casas assobradadas brancas muradas escondem
jardins e pátios internos, fontes e paredes azulejadas em padrões mouriscos. São
conhecidas como “cármenes”, que deriva do vocábulo hispano-árabe “karm” e têm nomes como “Cármem de la Monequita”, “Cármem
de la Estrella” ou “Cármem de la Victoria”.
O poeta e dramaturgo Federico García Lorca, nascido na
Província de Granada, se encantava com as "cármenes", para as quais
compôs os versos: “Surgen con ecos fantásticos las casas blancas sobre el monte...
Enfrente, las torres doradas de la Alhambra enseñan recortadas sobre el cielo
un sueño oriental”. Ele gostava de subir a colina de Albaicìn ao entardecer
para de lá admirar o poente e Alhambra, que comparava a uma “Atlántida
maravillosa”.
Para quem conhece Alfama (Lisboa) não há como não associar urbanisticamente
os dois bairros, embora suas origens e histórias sejam diferentes. E como fiz em
Alfama resolvi desbravar Albaicín ao cair de uma tarde de abril. No Mirador de
San Nicolás, onde está a Igreja de mesmo nome, além da bela vista das muralhas
e torres de Alhambra é possível relaxar e ouvir flamenco, apesar do intenso
movimento dos turistas. Melhor explorar o bairro mais acima.
E depois de subir muita ladeira até o ponto em que turistas
não costumam ir, cheguei ao Mirador da Ermita de San Miguel Alto, onde se reunem
jovens locais. A igreja, de estilo neoclássico é uma bela construção do Sec.
XIX e a vista a parti do seu mirador é a mais espetacular de Granada.
Bem perto dali se alcança a antiga muralha que cercava a
cidade no período Nasrida. Um trecho destruído da muralha Nazari (Sec XIV) mereceu
uma intervenção paisagístico-arquitetônica em 2006 pelo arquiteto Antonio Jiménez
Torrecillas. A descrição do projeto diz que ele dá “continuidade
visual ao trecho da muralha, redefinindo a fronteira histórica perdida e
protegendo os restos originais”. Construída com blocos de granito rosa interrompidos
em alguns trechos, o vão interno da intervenção cria jogos de luz e sombra que
lembram as gelosias de Allambra e permitem vistas inusitadas da cidade.
Texto
e Fotos: Sérgio Ulisses Jatobá
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