A MEZQUITA DE CORDOBA (ANDALUZIA)

 

Nossa viagem à Andaluzia começou em Madri, na Estação Atocha. No trem para Cordoba o céu se nublou. Mas a chuva só veio a cair no domingo a tarde, quando saíamos da Mezquita. Há muitos anos não fazia  tanto calor como nos quatro dias anteriores à nossa chegada à cidade que foi nossa porta de entrada em Andaluzia.

Chegamos em um sábado pela manhã. Nosso hotel ficava na Calle Romero Bastos, no coração do centro histórico, a apenas 8 minutos à pé da Mezquita. Mas só fomos visitá-la no dia seguinte. Antes, percorremos todo o centro, passando por fora dela, admirando primeiro o seu exterior, preparando-nos para a visita interna, que já imaginávamos surpreendente, no domingo.

A Mezquita é uma construção “quase impossível”, como álguem já disse. Uma mesquita mulçulmana dentro de uma catedral católica, situada no meio de um bairro judeu. Um exemplo da convivência religiosa entre três culturas tão díspares? Na verdade, a história mostra que nesse caso foi bem o contrário. A grande mesquita de Qurtubah foi edificada por Abd ar-Rahman entre os anos 786 a 788, quando Córdoba era a capital do reino muçulmano de Al-Andaluz. No local existia a Basílica visigoda de San Vicente, cujos resquícios arqueológicos ainda podem ser vistos no subsolo da Mezquita. No século X, os muçulmanos fizeram acréscimos sucessivos no edifício: a torre minarete, o Mihrab, o belíssimo nicho de oração e a Maqsura, recinto do califa. Por último foi acrescentado o Pátio de Los Naranjos


Mas a Mezquita foi convertida em catedral em 1236, quando Córdoba foi reconquistada pelos cristãos. E no século XVI, no centro do espaço da mesquita, que se manteve praticamente inalterada, foi edificada a nave de uma catedral renascentista e seu transcepto longitudinal, criando uma inusitada inserção arquitetônica. Em 1984 o monumento foi declarado patrimônio cultural da humanidade.


A
Mezquita não é uma mesquita. A igreja católica reina absoluta ali. Muçulmanos a visitam, mas não a reconhecem como templo. Divina observou que “eles visitavam somente os espaços preservados da mesquita. Não pisavam no chão que foi carregado de imagens católicas, e de adereços que precederam o barroco”. Já os judeus têm sua própria sinagoga próximo dali, construída em 1315 e uma das poucas que se preservou depois da sua expulsão. Ela não tem a imponência e a riqueza de adornos da Mezquita, mas ali há uma pacificante atmosfera. 

Houve sim, na história da Península Ibérica, um momento de convivência mais tolerante entre árabes, judeus e católicos, durante os anos de 711 a 1031/1066, e que não se repetiu depois. A reunião dos homens em grupos sociais, que possibilitou o grande salto civilizatório da espécie humana, também os separou em clãs que, na medida em que fortaleciam os laços entre os que consideravam iguais, muitas vezes se apartavam mais dos que consideravam diferentes. Assim seguem árabes, judeus e católicos, até que uma nova janela de tolerância mútua se abra e não se feche jamais.


 Texto e Fotos: Sérgio Jatobá


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