SAINT MALO E TODA A LUZ QUE NÃO PODEMOS VER

“Toda Luz Que Não Podemos Ver” é um romance de Anthony Doerr, ambientado na cidade de Saint Malo, localizada na costa da Bretanha. Mais especificamente no seu sítio histórico, cercado por muralhas construídas no seculo XII. A cidade fundada por romanos no Sec. I a.C. tem sua história marcada por navegadores e corsários, que de lá saíram para invadir o Rio de Janeiro e fundar no Brasil a França Antártica em 1711, que resistiu durante 5 anos antes da retomada portuguesa. Na história mais recente, a Saint Malo intramuros foi quase totalmente destruída pelos bombardeios e batalhas entre as forças aliadas e nazistas na Segunda Guerra Mundial. É nesse cenário de guerra que se passa o romance.

 “Saint Malo: a água costeia a cidade em quatro lados. Sua ligação com o restante da França é tênue: uma ponte, uma restinga, uma língua de areia. Somos cidadãos de Saint Malo em primeiro lugar, dizem os moradores. Depois, bretões. Franceses, em última alternativa. Sob a luz da tempestade, seu granito brilha azul. Nas marés mais altas, o mar se arrasta até os porões do centro da cidade. Nas marés mais baixas, as balizas de mil navios naufragados, cobertos de marisco, despontam na superfície do mar. Em três mil anos, este pequeno promontório já vivenciou outros cercos. Mas nunca como este.” (trecho de “Toda Luz Que Não Podemos Ver”)

A jovem Marie-Laurie se muda com seu pai para Saint Malo, fugindo da invasão nazista à Paris, passando a viver na casa do seu tio-avô na Rue Vauborel, número 4. Werner é um jovem soldado alemão que se torna especialista em montar e consertar rádios, um equipamento essencial para a estratégia militar nazista. A vida dos dois se cruza na cidade sitiada, “o último ponto de defesa alemã na costa bretão”, em meio ao terror da guerra.

Apesar de bem escrita e ter recebido o Prêmio Pulitzer de Ficção em 2015, a novela vale mais pelas referências históricas e geográficas do que pelas qualidades literárias, a meu ver. Foram essas referências que me fizeram querer visitar Saint Malo.

Já havíamos programado uma viagem à França em 2015, para visitar cidades na Normandia e o Mont Saint Michel. Como Saint Malo estava bem próximo a incluímos no nosso roteiro. E valeu muito a pena.

Chegamos em um domingo ensolarado que realçava o tom esmeralda do mar (não é à toa que esse trecho do litoral bretão tem o nome de “Cotê d’Emeraude"). Caminhamos pela muralha, contemplando a praia e o oceano, de um lado, e a pitoresca vila intramuros, do outro. Andamos pelas ruas pedestriais e praças, animadas pelo movimento turístico, comemos os deliciosos “moule frites” e ouvimos um trio de músicos de rua tocando jazz mamouche, antes de visitar a Plage du Mole, local citado no romance. Só no final do dia encontramos a Rue Vauborel, lugar ficcional de moradia de Marie-Laurie. Como era esperado, o número 4 não existia e na sua estimada localização havia uma escola, talvez uma homenagem do autor à educação e à cultura, matérias primas da literatura e alimentos para a alma.



Texto e Fotos: Sérgio Ulisses Jatobá


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O CAMINHO DE SANTIAGO POR DIFERENTES CAMINHOS (Parte 1)

NOVOS BAIRROS ALÉM DAS PORTAS DE PARIS

CUENCA – a cidade das casas colgadas