CUENCA – a cidade das casas colgadas
"Et qui custos est Domini sui glorificabitur" era a inscrição gravada na parede do nosso quarto na Posada San Jose em Cuenca, Espanha. Parte de Provérbios 27, versículo 18 da Biblia, que significa: "aquele que ministra ao seu Senhor será honrado", esse é o registro original que estava na parede do antigo Colegio de Infantes de Coro de la Catedral de San Jose, edificação construída em 1621 pelo genro e colaborador do pintor Velázquez, transformada em pousada em 1953.
A Posada San Jose está situada a 50 metros da Catedral e da Plaza Mayor da Cidade Alta de Cuenca. Pio Baroja, em seu romance “La nave de los locos”, registra suas impressões ao ouvir, desde os terraços da Catedral, o coral de meninos do Colégio. A Catedral (1182), de estilo gótico, diz a lenda, de inspiração templária, será a única a sobreviver ao Apocalipse, segundo as “Centúrias” de Nostradamus e nela estaria escondido e preservado o Santo Graal.
Já os quartos da Posada conservam a singeleza da configuração original, mas as vistas a partir do pequeno balção em frente à janela são espetaculares. Dali se avistam o Parador de Cuenca (antigo Convento de San Pablo), a Ponte de San Pablo, as montanhas do desfiladeiro, por onde corre o rio Huécar, e ainda parte da cidade alta onde se destaca o Edificio da Inquisição, atual Arquivo Municipal.
Cuenca nasceu na Alta Idade Média como uma fortaleza (por isso sua localização no alto de um penhasco) e era um castelo muçulmano até sua conquista em 1177 pelo rei cristão Alfonso VIII. Foi declarada Patrimônio Cultural Mundial da Humanidade em 1996. Nela se encontram as famosas Casas Colgadas, três exemplares remanescentes das antigas casas construídas parcialmente suspensas sobre os penhascos e que ali abundavam no Sec XV. Desde 1966, elas abrigam o Museo de Arte Abstracto de Cuenca.
Na cidade moraram importantes artistas representantes da arte abstrata espanhola na década de 1960, entre os quais, Geraldo Rueda, Antonio Saura, Gustavo Torner e Fernando Zóbel, o criador do Museu. Aliás vale registrar que são de autoria de Torner e Rueda os desenhos dos novos vitrais da Catedral, que foi seriamente danificada durante a Guerra Civil espanhola.
Desde a primeira vez que estive na Espanha, queria conhecer Cuenca. As imagens das Casas Colgadas, os despenhadeiros, o casco histórico assentado sobre uma escarpa rochosa que se ergue entre dois rios me atraiam. Passaram-se dez anos até que pude explorar esses abismos e andar a beira deles. Sentimentos de encanto e assombramento na cidade medieval onde as janelas do Museu de Arte Abstrata emolduram a paisagem de pedra.
Mais fotos
Texto e Fotos: Sérgio Ulisses Jatobá
Comentários
Postar um comentário