PELA JANELA DE UM TREM ÀS MARGENS DO DOURO
Setembro evoca viagens. Setembro evoca paisagens novas. Setembro evoca paisagens
que passam pela janela de um trem. Estou na estação de trens de Campanhã na
cidade do Porto, Portugal. Aguardo um trem para Peso da Régua, cidade às margens
do rio Douro.
Enquanto isso, leio um texto intitulado “Inventário de Setembro”. Certo trecho
diz:
“O sono é uma pequena morte. Dentro dele pode se sonhar os anos futuros.
Mesmo aqueles que já não habitaremos”. (Inventário de Setembro).
Para os franceses a “pequena morte” é aquele instante de cansaço e
desfalecimento que sucede ao prazer orgástico. Seria então o pós-orgasmo o sono
que sucede à plenitude efêmera do desejo? Um sono povoado por sonhos, um cansaço
bom, uma pequena morte com direito ao retorno à vida.
“Andamos todos perdidos nas grandes cidades do nosso tempo, à procura de uma
porta de saída. Se tivermos a sorte de encontrá-la, pode acontecer de
percorrer com novos olhos uma geografia de afetos perdidos que embalará o
nosso sono...”
(Inventário de Setembro).
A porta de saída também é a porta de entrada de novos olhares. Pela janela do
trem passam paisagens que não perduram nas nossas retinas, Mas permanecem na
tela da memória, que depois vai apagá-las para substituir por novas paisagens.
Tentarei inventariar setembro pelas paisagens dessa viagem.
“Vai a estrada em seu sossego de curva e contracurva, ora desce, ora sobe, e
na encosta de lá vêem-se melhor as casas, até elas condizem com a paisagem”.
(José Saramago, Viagem a Portugal, pg. 53)
Saramago viajou por seu país para descobrir Portugal dentro de si. Escreveu sua
estória para contar a História.
“História de um viajante no interior da viagem que fez, história de uma
viagem que em si transportou um viajante, história de viagem e viajante
reunidos em uma procurada fusão daquele que vê e daquilo que é visto...” (José
Saramago, Viagem a Portugal, Apresentação)
Meu amigo Márcio Faraco e seu parceiro Pierre Aderne cantam o Douro, o rio que
nasce em Espanha e se encontra com o mar na cidade do Porto. Percorrer o Douro,
de barco ou de trem é uma experiência inebriante, como o vinho que é produzido a
partir das uvas que se cultivam em suas margens.
“É importante amar o Douro, tão importante quanto navegar, voga assim o meu
tesouro, vem tinto vai devagar “ (Douro, canção de Márcio Faraco e Pierre Aderne).
Texto
e Fotos: Sérgio Ulisses Jatobá
Comentários
Postar um comentário