As luzes de Paris não se apagam nunca

 "...viajar e perder países, perdê-los todos viajando nos trens iluminados do mundo noturno, ser estrangeiro sempre".(Perec in Vila-Matas "Paris no se acaba nunca")

Em 2012, estive alguns dias em Paris, junto com minha esposa Divina e nosso filho Marcelo, que nos acompanhava naquela viagem. Nos hospedamos em um pequeno hotel no 10º arrondissement, próximo a Gare du Nord, em uma rua transversal à Boulevard de Magenta. 

Empolgado com a experiência de ter conhecido Veneza pouco antes do amanhecer, evitando a muvuca do turismo no período diário, propus ao meu filho acordarmos às 5:00 e sairmos para ver e fotografar as ruas de Paris antes do raiar do sol. Ele topou a aventura e deixamos o hotel às 5:15 em direção à Bl. de Magenta, de onde prosseguimos nossa caminhada, buscando um caminho para chegar ao Sena. 

As ruas desertas de Paris ainda iluminadas com seu tom âmbar refletido no brilho do asfalto molhado por uma chuva recém caída criavam uma atmosfera mágica. O frenesi do dia-a-dia da grande metrópole dava lugar a tranquilidade que esperávamos encontrar naquele horário. 

A esquina do Le Parisien, com seu letreiro em neon vermelho se destacava e mereceu uma foto. Em frente à Igreja de Saint-Laurent, dobramos à direita na Bl. de Strasbourg e seguimos direto por ela, parando aqui e acolá para fazer outras fotos da cidade que se deixava mostrar passivamente. 

Manequins aproveitavam a solidão noturna e pareciam se movimentar dentro de uma vitrine iluminada em bleu blanc rouge. 

Até chegarmos a Place du Châtelet, às margens do Sena e vislumbrarmos do outro lado da Ponte Au Change o Palais de la Cité. 

Ainda caminhamos um pouco ao longo do Sena na Ile de la Cité, desfrutando o prazer de ver os tons vermelho e verde dos semáforos misturados com a luz âmbar dos postes refletidos no chão ainda úmido. 

Já amanhecia e a cidade luz se apagava ao acordar quando resolvemos fazer uma pausa em um café. 

Ainda não havia muitos clientes mas esperamos uns 30 minutos para sermos atendidos por um garçom mal humorado, que errou nossos pedidos e não pediu desculpas. 

Pagamos, caro para o que nos foi oferecido, e voltamos para o hotel com a absoluta certeza de que Paris já havia amanhecido.


Textos e Fotos: Sérgio Jatobá 

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